No ar, a Rede Seu Zé de Comunicação

Uma multidão de anônimos ocupou a web e fez dela o seu ambiente particular, porém plural, de comunicação

Certa feita, o Eduardo Peres, meu sócio na Fermento, disse que o nosso grande desafio seria repensar o marketing numa realidade em que o espectador tomou o lugar da mídia. A internet, as redes sociais e o acesso à banda larga, alçada ao nível de política pública, transformaram pessoas comuns em potenciais veículos de comunicação. O consumidor (termo já inadequado) primeiro tomou para si o poder de selecionar a informação com a qual interagir. E, num segundo momento, conquistou também os meios de produção, de veiculação e até de comercialização de um conteúdo criado por ele mesmo.

O raciocínio proposto pelo Eduardo, a cada dia, faz mais sentido. E melhor: nunca foi tão estimulante. Há casos notórios que corroboram esse ponto de vista. Hoje, por exemplo, as grandes agências de notícias disputam espaço e credibilidade com blogueiros independentes. A outrora poderosa indústria fonográfica se viu acuada e impelida a repensar seu modelo de negócios com o surgimento de ferramentas como Napster, iTunes e Spotify. Produtoras de cinema e vídeo ganharam a companhia de talentos despretensiosos mundo afora. As emisssoras de TV passaram a encarar a concorrência dos portais de vídeos. As pesadas enciclopédias desapareceram das estantes e ressurgiram nas telas dos computadores. Dessa vez, com verbetes escritos, conferidos e ilustrados por pessoas comuns. Tudo disponibilizado de graça em plataformas como a Wikipedia, um dos exemplos mais interessantes da força do conteúdo colaborativo.

O custo cada vez mais baixo de câmeras digitais, filmadoras de alta definição, lap tops, smartphones, tablets, hard disks e softwares aliado à oferta gratuita de ferramentas como Youtube, Twitter, Facebook e Instagram tornaram a produção e a difusão de conteúdo acessíveis a boa parte da sociedade. Um contingente que deve aumentar de forma ainda mais intensa no Brasil. Sobretudo após a implementação do Plano Nacional de Banda Larga, capitaneado pelo Ministério das Comunicações. A surrada máxima de Andy Warhol sobre os 15 minutos de fama ganhou novos contornos.

Uma multidão de anônimos ocupou a web e fez dela o seu ambiente particular, porém plural, de comunicação. Movida por nuances de altruísmo, essa massa de indivíduos é responsável pelo surgimento da Rede Seu Zé de Telecomunicações, da Estação Dona Maria de Radiodifusão e do Canal Francisco de TV. São os empresários do acaso. Gente que recebe pelo trabalho, quando muito, um quinhão de reconhecimento e afagos no ego. Nos casos em que a sorte tropeça na insistência, chegam a ser remunerados por empresas que buscam essa audiência qualificada e democrática, que navega ao sabor dos bits.

Nesse cenário de conteúdo pulverizado, mas acessível, conceitos como credibilidade e relevância também alcançaram outros vultos. E passaram a fazer um necessário contrapeso à palavrinha mágica do momento: share. Ou, em bom português: dividir, compartilhar, distribuir. Sejam conhecimentos ou experiências. Oportunidades ou desejos. Fatos ou pensamentos. Esse é, enfim, o retrato dessa nova dinâmica que impôs aos profissionais de marketing a necessidade urgente de reinventar suas atuações.